domingo, 11 de outubro de 2009
LEMBRANÇAS: LOUÇAS LASCADAS
Li num livro, diga-se de passagem, maravilhoso, mas que não me lembro o nome. Lá o escritor, me parece um ex-jornalista que contava coisas sobre sua família.
Diz que tinha um tio que era um sobrevivente de guerra, e quando ele foi visitá-lo, vendo suas louças lascadas, pois estava tomando chá com ele e ao observar as xícaras, percebeu que estas estavam ligeiramente lascadas e mesmo assim o tio as conservava. Ele achou isso fascinante. As louças eram variadas, tipo: pratos de várias cores, e nada combinava era um prato de cada conjunto. Ele percebeu sabiamente que o tio gostava de guardar as coisas mesmo meio lascadas, para ter alguma lembrança de sua vida. Pois já que eram pessoas que vinham da guerra, parece-me judeus, e perdiam tudo o que tinham, nela. Daí o guardar algumas lembranças mesmo às pequenas eram importantes para os fugitivos ou sobreviventes de guerra.
Sempre achei muito ruim o fato de minha mãe ter todas as louças, cada uma de cada cor, cada prato com um desenho, cada xícara de um jeito, achava isso esquisito, e pensava “Por que ela não joga fora e compra um conjunto novo e completo, já que pode?” Como somos insensíveis em relação à vida e as pessoas, inclusive, como nos falta entendimento sobre o ser humano. Ela gosta de ter suas coisas e suas lembranças e se jogasse fora, devido à falta de memória para algumas coisas, com certeza ela esqueceria de onde veio e quem era. Lógico que é inconscientemente, mas faz isso e assim. Preserva sua história e memória.
Respeitar o outro, suas coisas, maneira de ser e viver, é muito bom. Aprendi com esse jornalista a ver as xícaras lascadas de minha mãe com outros olhos.
Mãe? Qual a história desse prato? Qual a história dessa xícara e desse talher? Cada coisa deve ter um porque e uma grande história a ser contada. Preservar a vida é preservar a história do outro.
Abraço. Lourdes.
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