terça-feira, 27 de outubro de 2009

GRAFITE


Quando eu dava catequese, tinha um menino muito especial. Ele desenhava de uma maneira esplêndida. Eu observei que sempre fazia suas coisas a lápis e quase não enxergávamos o que escrevia. Nada de cores em seu caderno. Tudo em preto e branco. Acho que ele via sua vida desse jeito.
Fiquei a observá-lo durante o tempo que ficamos juntos e cheguei à seguinte conclusão.
Sempre pedia a ele que escrevesse a caneta, já que ele tinha sérios problemas visuais. Mas ele recusava-se sempre. Então não insisti.
Mas a conclusão que cheguei é que ele era um menino inseguro. Parecia com o seu caderno escrito à grafite, que com o simples uso de uma borracha poderíamos apagá-lo de nossas vidas.
Pensei comigo: Será que o Renê se sente assim? Como alguém tão frágil?
Fui conversar com seus pais. Falei que percebia nele a genialidade e a habilidade em desenhar, pois ele desenhava castelos com todos os detalhes. Sua memória era fantástica, não esquecia nem o menor detalhe. Belo isso! Falei para os seus pais que de uma coisa eles deveriam ter certeza, seu filho era gênio e que se não usassem sua genialidade para que se desenvolvesse para o bem, com certeza o mal iria aproveitar-se disso. Deixei isso bem claro.
Parece-me que hoje o René tornou-se um jovem aparentemente normal. Tentei trabalhar bem o lado de suas inseguranças, e procurei tratá-lo como aquilo que era: somente uma criança. Deixei que se soltasse o máximo possível. Reforcei a fé que ele já tinha em Deus. E René sobreviveu às suas inseguranças.
Será que quem escreve com grafite ou gosta desse tipo de material, é essa pessoa insegura que vi em René?
Gostoso observar as pessoas e quando descobrirmos suas fragilidades, tentar ajudá-los de alguma forma.
Abraço. Lourdes.

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