quinta-feira, 1 de outubro de 2009
FRANCISCOS...
Conheci há alguns anos atrás um andarilho. Um negro, altíssimo, cabelo black power, morador de rua. Sempre pergunto o nome das pessoas, ele disse se chamar Francisco, mas na verdade talvez nem fosse esse seu verdadeiro nome, pois a maioria deles até se esquecem de como se chamam. São os Zés ninguém, os João sem nome, e os Franciscosss de nossas vidas. O “Francisco” nunca falava nada, parecia um bicho encurralado com medo de tudo e de todos, mas aos poucos fui conquistando sua confiança e daí trocamos mais que uma palavra, talvez duas... Rsrsrsrsrs.
Meu avó Teodoro nos ensinou assim: como o pobre, normalmente é pobre em tudo, então o deixe falar a lista de suas inúmeras necessidades e faça o que você achar mais necessário, já que somos pobres também e não temos como suprir todas as suas necessidades.
Assim fiz. Perguntei ao “Francisco”, o que é que ele estava mais necessitado, ele me disse que gostaria de cortar seus cabelos. Então lá vai a Lourdes atrás de dinheiro para cortar os cabelos de “Francisco”. Eu não tinha o bendito dinheiro, daí fui até a Paróquia ver se conseguia algum, e nada. Encontrei um pastor conhecido meu e lhe expliquei o problema, IMEDIATAMENTE, ele arrumou o dinheiro, que não era muito, mas ele também não tinha na hora, emprestou de alguém. E lá fui eu atrás de um salão que quisesse cortar o cabelo dele. Encontrei uma alma generosa que se dispôs a fazer isso.
Meninosss!!! Você não imagina quando ela foi lavar os cabelos dele, saiu CADA TIJUCO, cada tijolão, a água mais parecia uma lagoa de água bem suja, marrom aquático... Gostou disso? Marrom aquático? Sem exagero, fiquei abismada de ver como é que estava aquele cabelo, deveria ser um peso danado carregá-lo, (carregar os cabelos), pois mais parecia tijolo que qualquer coisa. Depois fomos ao corte. A cabeleireira além de cortar, não cobrou nada, daí dei o dinheiro para o “Francisco”. E “Francisco” saiu feliz da vida com seus cabelos black power bem cortados. “Francisco” não sorria, nem falava, era homem de poucas palavras, eu é quem deduzi que ele estava feliz, mas sei lá se estava, não deixava transparecer nada. Ele era tipo assim: rosto de pedra, inexpressivo. Mas eu fiz minha parte.
Nunca mais encontrei “Francisco”, mas penso que ele se sentiu bem melhor sem o peso dos tijolos em sua cabeça, e talvez alguns piolhos também, se é que esses bichos conseguem sobreviver em meio a tijolos.
Fiquei feliz por ter feito isso e dessa forma. Quem sabe o homem de olhar e rosto inexpressivo, também.
Abraço. Lourdes Dias.
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