quarta-feira, 7 de outubro de 2009

FUNERÁRIA : MORTE


Tínhamos funerária, e trabalhamos neste ramo durante muitos anos. O Alfredo trabalhava desde criança e depois assumiu o lugar do pai.
Você já pensou uma bipolar trabalhando em funerária? Nem pense!
Sei que enterrar os mortos é obra de misericórdia e alguém tem que fazer isso. É uma profissão de uma humanidade incrível, mas me imaginem neste trabalho.
Primeiro: sempre me perguntavam se eu era parente do falecido, pois chorava toda vez que tinha que fazer o serviço. Alguns brincavam que eu era carpideira, ou seja, era paga para chorar em velório. Coisas de quem não tem o que fazer. Rsrsrsrs...
Segundo: esse serviço aprisiona, pois você tem que estar à disposição da família caso venha a falecer alguém.
Terceiro: A cada segundo você só pensa e fala nisso, na tal morte, pois se esse é seu ramo de serviço e se o normal é falarmos do que fazemos, né mesmo? Coitadas das crianças! Acordavam, almoçavam, dormiam, vivenciando a morte de alguém. Se não vivenciavam, tinham que escutar sobre isso. É ruim a meu ver. A morte nunca é fácil de ser encarada como coisa natural da vida.
Quarto: para nós que temos dificuldade em lidar com perdas, sejam nossas ou dos outros, é um ramo muito difícil de trabalhar.
Quinto: desenvolvi um trauma por campainha e telefone, pois cada vez que a campainha ou telefone tocava, sempre esperávamos más notícias. Isso quando não eram os nossos amigos e parentes que haviam falecido.
Sexto: ter que sobreviver da desgraça do outro. Sei que alguém tem que enterrar os mortos, mas o comer e beber dependendo disso para as pessoas mais sensíveis é algo um pouco complicado.
Sétimo: a funerária era em casa.
Enfim, criar seus filhos nesse ambiente, é ruim, o ideal é criá-los em um ambiente descontraído, festivo, onde o assunto seja sempre a alegria e não a tristeza da perda.
Não sei se o fato de termos tido funerária nos ajudou a trabalhar melhor a perda ou complicou mais, mas a verdade é que vivi essa experiência por muitos e longos anos. A verdade é que vivemos ... por longos anos...
Agora não mais, graças à Deus.
Abraço. Lourdes.

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